Por: RAQUEL ARAUJO - Portal da Arquidiocese
Uma forma de repensar o Natal, às vésperas do tempo litúrgico do Advento. Dessa forma, o Papa Bento XVI lançou o último livro da trilogia que narra a vida do Senhor. Em meio a um mundo secularizado, onde predomina a falta de fé, o Pontifice apresenta, de maneira sábia e didática, Jesus como o centro dos debates e em perspectiva histórica. A mensagem é uma só: Jesus nasceu e ele é o filho de Deus, Salvador e Redentor do mundo. Esse é o foco do livro. A tentativa de criar polêmica sobre a mudança nas tradições natalinas não é coerente com a verdade da publicação.
Apesar das críticas que a recente obra do Pontífice estranhamente sofre no Brasil por parte da grande imprensa — que afirma injustificadamente que o Papa pretende mudar o presépio e as tradições do Natal, entre outras insinuações —, o livro " A infância de Jesus", segundo a opinião de importantes teólogos, exala espiritualidade através de uma verdadeira meditação teológica, por meio da qual elementos históricos se misturam com os simbólicos, em um diálogo que compõe a fé do cristão. O Pontífice, conforme explicou com simplicidade no prefácio de sua obra, procurou "interpretar, em diálogo com exegetas do passado e do presente, o que Mateus e Lucas narram no início dos seus evangelhos sobre a infância de Jesus”.
Em artigo publicado no Portal da Arquidiocese, o Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro Dom Edson de Castro Homem relembrou a fala do Papa Bento XVI em ocasião do lançamento do primeiro livro da trilogia e afirmou que a posição do Pontifice pode também ser aplicada para o lançamento de “A Infância de Jesus”.
“O que ele afirmou do primeiro livro "Jesus de Nazaré", serve para o último da trilogia "A Infância de Jesus". Disse na ocasião: “Este livro não é um ato de magistério, mas unicamente expressão da minha procura pessoal “do rosto do Senhor” (cf. Sl 27, 8). Por isso, cada um está livre para me contradizer. Peço apenas aos leitores um adiantamento de simpatia, sem o qual não há nenhuma compreensão”. É claro que já há contraditores à altura e os que infelizmente não leram com nenhuma simpatia. Pior: fizeram uma leitura dinâmica, superficial, bem apressada.”
"Eu até teria vergonha de escrever ou falar"
— Ao observar a polêmica que, absurdamente, vem sendo levantada em nossa sociedade, só posso concluir mesmo que a vivência da fé incomoda. Pouco importa se havia animais ou não no momento do nascimento de Jesus. Importa é que ele nasceu para nos salvar! E isso é fato divino, que passa pela nossa fé, mas também é dado histórico. Dizer que o Papa quer que os católicos mudem a concepção do presépio é uma bobagem sem tamanho, que eu até teria vergonha de escrever ou falar, se estivesse formada, comentou a estudante de jornalismo Giselle Carvalhal.
"O Papa não tem a menor intenção de mudar o que quer que seja no Presépio"
Para a teóloga e professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio, Maria Clara Bingemer, de fato, para melhor compreender tamanho conteúdo contido nas palavras de Bento XVI é necessário ir além da interpretação literal de suas linhas e mergulhar em um ritmo de oração:
— Minha impressão é a de um texto de rara beleza e grande profundiade, que une magnificamente o rigor intelectual e a incontestável erudição, da qual se sabe ser portador Bento XVI, a um estilo refinado e cheio de espiritualidade. O Papa oferece à Igreja um livro que é uma verdadeira meditação teológica. Ninguém poderá lê-lo sem entrar no ritmo de oração que o atravessa do início ao fim e que convida a contemplar o mistério de Jesus de Nazaré, opinou.
Sobre a tentativa de se criar polêmica com relação aos animais representados ao redor da manjedoura, no momento do nascimento de Cristo, Maria Clara explicou:
— É verdade que o próprio Papa diz em seu livro que realmente o Evangelho não fala em animais, mas explicou que "a meditação, guiada pela fé, lendo o Antigo e o Novo Testamento, preencheu rapidamente esta lacuna remetendo a Is 1,3 (O boi conhece seu dono e o burro a manjedoura de seu mestre, Israel não conhece, meu povo não compreende)". E continuou a explicação, remetendo a Habacuc 3,2 (No meio de dois seres vivos...tu serás conhecido; quando vier o tempo, tu aparecerás). O Papa comentou que os dois seres vivos seriam os dois Querubins que, segundo Ex 25,18-20, sobre a cobertura da arca da aliança, indicam e ao mesmo tempo escondem a misteriosa presença de Deus: "Assim, a manjedoura se tornaria, de uma certa maneira, a arca da aliança, na qual Deus, misteriosamente guardado, estaria no meio dos homens, e diante da qual, para "o boi e o burro", para a humanidade composta de judeus e gentios, a hora do conhecimento de Deus teria chegado." Ele ainda continuou sua reflexão: "No surpreendente elo entre Is 1,3; Hab 3,2; Ex 25. 18-20 e a manjedoura aparecem então os dois animais, como representação da humanidade, sem inteligência, que, diante do Menino, diante da humilde aparição de Deus no estábulo, chega ao conhecimento e, na pobreza deste nascimento, recebe a epifania que aprende agora a ver tudo. A iconografia cristã já cultivou desde cedo este tema. Nenhuma representação do presépio renunciará ao boi ou ao burro". Como fica evidente por essas citações, o Papa não tem a menor intenção de mudar o que quer que seja no Presépio, esclareceu a teóloga.
A obra de Bento XVI é dividida em quatro capítulos e um epílogo. O primeiro capítulo trata da genealogia de Jesus. Já o segundo fala do anúncio do nascimento de João Batista e de Jesus. O terceiro aborda o nascimento de Cristo e faz referência ao contexto histórico. O quarto capítulo fala sobre o papel dos Reis Magos, que representam, segundo o Papa, a humanidade 'quando faz o caminho para Cristo'.
* Fotos: Intermirifica.net e Editora PUC-Rio
* Colaboração: Nice Affonso e Cláudia Brito
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