Por: G1.com
A encenação do Auto da Paixão de Cristo, que seria realizada
nesta sexta-feira (18) na Catedral Metropolitana do Rio, no Centro, foi
cancelada por questões de segurança, segundo a assessoria de imprensa da
Arquidiocese. Desde o início da manhã, ex-ocupantes do terreno da Oi, no
Engenho Novo, acampavam em frente ao local. O grupo, de cerca de 50 pessoas,
diz que foi expulso por policiais da frente da Prefeitura, onde estavam
acampados, por volta das 3h.
Em nota, a Arquidiocese lamentou "que existam pessoas
que ainda sofram em virtude da ausência de moradia e sejam manipuladas por
outros interesses" (leia a íntregra da nota no fim da reportagem).
A ação litúrgica estava prevista para as 15h e à noite seria
realizado o Auto da Paixão. Ainda de acordo com a Arquidiocese, os eventos nas
paróquias acontecem normalmente.
Segundo o tenente-coronel Edson Duarte, do 4º BPM, em São
Cristóvão, representantes do grupo que, na quinta-feira (17), decidiu ficar em
frente à Prefeitura, saiu por vontade própria do entorno do prédio do governo
municipal. O oficial disse ao G1 que PM e Guarda Civil apenas acompanharam os
manifestantes.
O padre Luiz Antônio, coordenador da Pastoral das Favelas da
Arquidiocese, afirmou estar preocupado com a situação das crianças. Ele diz que
a igreja tem como prioridade buscar abrigo para elas.
"A Igreja vai servir de mediação nesse acesso aos
abrigos. Nosso arcebispo pediu que nós estivéssemos aqui. Cada um sabe muito
bem quem está necessitando, precisando."
Dirigindo-se diretamente aos acampados, disse: "A
proposta é acompanhar e estar com vocês enquanto a situação não for resolvida.
Quem tem obrigação de fato é o estado, que tem que dar essa resposta. A igreja
vai servir de mediação para esta negociação".
Os acampados receberam doações de água, pão e café da manhã.
Eles chegaram à igreja por volta das 6h desta sexta e não querem ir para
abrigos. O grupo diz que quer ir para um lugar onde possa ficar todo junto e
quer receber aluguel social. Um dos ex-ocupantes, que não quis se identificar,
contou que já morou em um abrigo e que no local há viciados em drogas.
De acordo com a Associação Cultural da Arquidiocese, há 45
anos o Auto da Paixão é encenado e faz parte do calendário religioso da cidade.
Esta seria a primeira vez que a celebração aconteceria dentro da Catedral e não
nos Arcos da Lapa, tradicional cenário do evento, que passa por uma obra de
revitalização.
"Diante da ocupação da entrada da Catedral do Rio de
Janeiro por um grupo de pessoas oriundo da OI/TELERJ, que solicitava apoio para
moradia, a Arquidiocese do Rio de Janeiro, através de responsáveis diretamente
ligados ao Arcebispo, ofereceu-se para mediar uma solução ainda que parcial,
uma vez que o período de feriados não permite soluções mais definitivas.
Apesar das negociações terem se encaminhado para o
atendimento provisório dos efetivamente necessitados, em local do poder
público, com o apoio da Igreja e serviços sociais e apesar de os necessitados a
terem inicialmente aceito, ao final, não se chegou a uma solução
satisfatória. Após ouvir assessorias, os
necessitados retrocederam.
A Arquidiocese do Rio de Janeiro lamenta que existam pessoas
que ainda sofram em virtude da ausência de moradia e sejam manipuladas por
outros interesses.
A Catedral permanecerá fechada. O Sr. Cardeal, em
solidariedade a todos os necessitados realizará as celebrações pascais em
comunidades que experimentam a pobreza aguda e que serão informadas
oportunamente.
A Arquidiocese do Rio de Janeiro reafirma sua intenção
inicial de servir como mediadora entre os necessitados e o poder público para
encontrar uma saída."
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